sexta-feira, 22 de agosto de 2014

SOBRE A LIBERDADE



Atenção, todas as mães! Só nós sabemos o tanto que é bom botar um filhote no mundo. É o presente de uma vida. Ser mãe só tem a ganhar: sabedoria, paciência, auto-conhecimento, um amor eterno, uma razão pra viver. 
Porém, mães, sejamos sinceras, ser mãe também é ter muito a perder: o sono, o corpinho em forma, as noites livres, umas horinhas à toa, as refeições quentes e demoradas, tempo à sós com o marido, e a pior perda de todas, a liberdade

Essa dói de perder.

E não tô falando só da liberdade física não; não tô falando só da "peraí que vou ali no centro comprar umas coisinhas...opa! Não posso, e o bebê? Tá na hora da soneca". Tô falando também da liberdade psicológica
Acho que o meu maior choque desde que a Eleonora nasceu foi perceber que eu nunca mais sentaria no sofá e não pensaria em nada, ficaria por ali, vagando as horas, com a cabeça cheia de vento; que eu nunca mais iria pôr a cabeça no travesseiro e esvaziar a mente, pensar na morte da bezerra. Mãe não esvazia a mente jamais, mãe não passa nem cinco minutos do dia sem pensar ao menos uma vez no bebê, o que ele tá fazendo, se comeu, se dormiu, se brincou, se tá chorando, se tá respirando, etc, etc, etc.

Parece trágico, né? E é.

Nos primeiros dias dos pós-parto, com os hormônios fervendo e a cabeça cheia de cansaço, me permiti desesperar algumas vezes por causa disso. Chorei, chorei, chorei e chorei. Desabafei com o marido, desabafei com minha mãe, desabafei com a depiladora, com a tiazinha da farmácia. E me lembro sempre do que uma mãe me disse uma vez: esse sentimento jamais vai embora, vai te perseguir por toda a vida, mas você aprenderá a lidar com ele. E a luta com ele gera outro sentimento, a culpa. E com o passar do tempo, você saberá pôr na balança a culpa e a liberdade.

Gente, que coisa verdadeira e difícil de fazer. Nossa.


Isso matutou na minha cabeça por muito tempo, e eu achava que esse tempo que levaria para que eu voltasse ao normal fosse durar uns 25 anos, rs. Mas foi de umas semanas para cá, que percebi que iria depender só de mim, da minha força de vontade e não do tempo. 

Eis que então apareceu uma oportunidade de experimentar um pouquinho da antiga liberdade: umas amigas iriam para um barzinho e me chamaram. 
Errrr, claro que não posso ir, né, óbvio. 
Mas então, assim que o marido chegou do trabalho, às 22.30 da noite, e me disse que ainda ia trabalhar um pouco antes de deitar, o meu tico e teco teve uma luz: VAMOS PARA A BALADA!
Gente, imagina uma mãe de primeira viagem se arrumando às onze da noite para sair pra night sozinha? Me senti a universitária, hahahaha! 
Cheguei lá toda contente. E então percebi que tinha esquecido meu cel no carro. Quase morri. Me veio a culpa. Por quê você saiu?, E se acontecer alguma coisa?, Agora você é mãe! Aquela sua vida acabou! Supera isso!, Se acontecer alguma coisa a culpa é sua!
Gente, eu não via a hora de ir embora! Por fora eu sorria, mas por dentro eu estava acabada!

A minha luta com a liberdade e a culpa só estava começando.

Desde então, tenho aproveitado estas oportunidades de sair sozinha que me aparecem. Fui tomar café com as amigas, fui ao shopping sozinha só pra olhar vitrine, fui pra praça só pra ficar de bobeira, fui à alguns barzinhos com a galera depois que a Eleonora dorme.
Claro que isso tudo depende da ajudinha do marido, que de bom grado  incentiva essas fugidinhas da bolha materna para o mundo real.

Não sei dizer se está mais fácil ou se estou melhor, às vezes acho que sim, às vezes acho que não. 
Eu acho que terei altos e baixos, o marido acha que só tende a melhorar, minha mãe acha que passa quando os filhos são adultos, meu pai acha que a solução é arrumar outro (porque com mais filhos a gente esquece de vez nossa vida mesmo! rs), meus irmãos não têm nem noção do que eu tô falando e me olham com cara de oi? como assim?,  as outras recém-mães acham como eu....

...e no meio de tanto achismo, eu só acho uma coisa: eu perderia não só a liberdade, mas tudo da vida pelo sorriso da bonitinha. :)




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