sábado, 29 de agosto de 2015

O FILHO DO AMOR



Lá se vão meses (no plural) que descobri minha segunda gravidez. Mas sabe, as coisas, a vida são tão atropeladas que já me peguei com pensamentos desse tipo: nossa, esqueci! Tô grávida!
Cuidar de uma criança de quase dois anos, da casa e do trabalho quase não nos deixa tempo para apreciar a beleza de uma gravidez.
Estava assim até ontem.
Ontem fiz meu primeiro ultrassom dessa gestação (com 13 semanas já), e foi aí, de repente, que tudo pareceu tão real, tão verdadeiro, que na saída do consultório eu apenas segurei na mão do marido e disse: agora eu entendi, somos pais de novo!

E então eu passei o dia a matutar pensamentos que já me perseguiam desde o positivo do teste de farmácia. Desde a descoberta, eu ainda não tive pensamentos do tipo "será que vou amar igual amo a Eleonora?"; muito pelo contrário: já desde o início eu penso "que alegria, bebê, você já vem amado, e não terá pais ainda tão crus como teve sua irmã."

Pelo amor de Deus, eu não quero dizer que primeiro filho não chega amado. Primeiro filho chega com um falso amor. O amor que sentimos quando o bebê ainda tá na barriga é algo mágico, mas ainda traz muita ilusão com ele. Com o filho nos braços, o amor real nasce de mansinho, dia após dia (mas de forma avassaladora, vai entender) e ainda muito cheio de sustos, inseguranças e sentimentos de impotência. É com o tempo que ele se livra desses aspectos negativos e se torna puro e incomparável. Ainda assim, é sempre aquele amor com um pouco de medo, afinal, seremos para sempre pais de primeira viagem do primeiro filho, até o fim. É ele quem abre as portas de todas as fases de crescimento do ser humano.

Com o segundo filho (e os seguintes) parece que não são as mesmas preocupações que nos rondam a cabeça. Sabe, tudo o que eu penso é: meu marido trabalha 3 períodos, como vou pôr duas crianças para dormir sozinha? Como vou sair de casa com dois? E se um acorda o outro no meio da noite? Como que faz supermercado com dois, se com um já é punk? E se os dois ficam doentes? E se a mais velha não me deixa amamentar? E no banho, eu boto os dois juntos na banheira? E por aí vai.
Porém, aquele medo do desconhecido, do lado humano, esse não existe mais. Agora a gente já sabe que o amor pelas crias é algo tão raro que supera qualquer dificuldade que nos aparece. No primeiro filho tudo isso é muito amedrontador. A gente acha que não vai dar conta de digerir tanto sentimento novo que nos surge. 

É por isso então que te digo: segundo filho é o filho do amor.
É isso que basta. Agora já sabemos que o primeiro ano é punk, que as cólicas uma hora passam, que logo logo a gente dorme mais de 2 horas seguidas, que metade do enxoval é feito de coisas desnecessárias.

Aiaiai, o enxoval, hahaha! Eu, entrando no quarto mês já, só tenho 1 item para o enxoval desse segundinho (e pelo jeito vai ficar só nesse item um bom tempo): uma cadeirinha pro carro.
O resto vai pegar da irmã, ou emprestado, ou vamos nos virar sem. Aquele mundaréu de tralhas se torna meio supérfluo, agora já sabemos o que realmente é necessário e não gastamos rios de dinheiro pra nada.
Mas aí há sempre quem diga: Nossa, mas não acho justo o segundo não ter tudo o que o primeiro teve.
Meu amigo, vou te contar as coisas que o segundo filho terá que seria impossível providenciar para o primeiro: sentimentos paternos mais maduros, um coração mais paciente, amor incondicional desprovido de medos. Isso é impagável.

Segundo filho, que filho sortudo!

Talvez eu tenha também sorte em poder dizer que o meu coração já se multiplicou por 2. Estou bastante ansiosa para poder sentir "o mesmo amor de forma tão diferente", como me dizem os que já tiveram o segundo (o terceiro, o quarto...).

O que me espera pela frente, eu não sei. Só sei que na primeira vez eu me perguntava: que amor é esse? E dessa vez eu só digo: que amor incrível! :)

Bom fim de semana!